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Márcia Fervienza

Revisitando o Passado para Transformar o Presente e o Futuro


Revisitando o Passado para Transformar o Presente e o Futuro | Márcia Fervienza Astrologia | Rio de Janeiro

Como coach, o meu trabalho é orientado ao momento presente do cliente e aos seus desafios atuais, sempre com o fim de criar resultados duradouros. No entanto, não é incomum que muitos dos obstáculos identificados durante o trabalho, e que impedem o alcance dos objetivos traçados, estejam fundamentados em experiências antigas, que ocorreram na infância ou na adolescência. Eles são frutos de crenças errôneas que se estabeleceram como resultados destas experiências e, para supera-los, às vezes é preciso revisitar tais experiências, por uma ou mais sessões.

Ao se dar conta da influencia de tais experiências em sua vida atual, muitas vezes os clientes se perguntam como aquilo ainda pode estar lhes afetando depois de tanto tempo. Diante disso, eles se criticam, se sentem menos capazes, se martirizam por ainda serem influenciados por tais questões e não se conformam por ainda estarem “presos” a aquilo.

Mas a verdade é que só a passagem do tempo não nos garante que os efeitos de nossas experiências anteriores vão desaparecer. Da mesma forma que as experiências que nos ensinaram coisas positivas e éticas nos acompanham, as experiências negativas também. As razões para isso são várias, e dependem de fatores como a idade em que ocorreram, com quem ocorreram e como a experiência ficou registrada para a gente. Abaixo, veja algumas das formas através das quais elas se manifestam em nossa vida atual:

Através da nossa personalidade

As relações e experiências vividas nos nossos primeiros anos de vida têm influência direta sobre a formação da nossa personalidade e, consequentemente, sobre os nossos relacionamentos atuais. Assim, pessoas que tiveram relacionamentos difíceis ou que não foram emocionalmente positivos com pai e mãe tendem a experimentar mais emoções negativas (a respeito de si mesma, dos outros e do mundo em geral), o que gera relacionamentos difíceis com os demais. Além disso, é comum buscarmos em nosso par características do nosso pai/mãe, mesmo aquelas que não nos agradavam, com o objetivo de tentar corrigi-la ou para aprender a aceita-las, o que gera relacionamentos infelizes.

Através de comportamentos automáticos

Os comportamentos aprendidos durante a infância e a adolescência tendem a ser os mais difíceis de corrigir e costumam ser os mais duradouros. Isso porque é através dos nossos relacionamentos com nosso pai, mãe, irmãos, avós, etc., que aprendemos a responder aos desafios que o lar da nossa infância nos apresentava. E carregamos estes comportamentos conosco por toda a vida, utilizando-os como referência de certo e errado, mesmo quando já não são mais necessários. Isso gera problemas e disfunções nas relações atuais.

Falta de consciência sobre como agimos e quem somos

Nossas reações atuais são sempre uma mescla do nosso presente e da nossa história. Mas nem sempre temos consciência do quanto as nossas experiências passadas compõem os filtros através dos quais vemos o mundo hoje. Este filtro colore as nossas percepções, influencia nossas crenças mais profundas e determina muitas das nossas atitudes. Assim é que muitas vezes pensamos que estamos reagindo e respondendo somente a situação diante de nós quando, na verdade, estamos lidando com a pessoa a nossa frente da mesma forma que fazíamos com nosso pai ou nossa mãe há muitos anos atrás, sem sequer nos darmos conta.

Desconexão entre a emoção gerada por um evento passado e a memória daquele evento

A cada idade temos uma resiliência emocional diferente. Por isso, experiências vividas aos 7 anos de idade têm um impacto emocional sobre a gente diferente de experiências vividas aos 14 ou aos 21 anos. Por exemplo, se a professora do colégio gritar com a gente por algo que fizemos errado aos 7 anos reagiremos diferente do que se ela o fizer quando tivermos 14 ou 21 anos. A criança de 7 anos provavelmente sentirá medo do adulto que grita com ela, o adolescente provavelmente sentirá vergonha e o jovem adulto de 21 anos ficará indignado e se sentirá desrespeitado.

Mas este impacto emocional geralmente se perde quando pensamos retrospectivamente sobre um evento. Um adulto de 30 anos, por exemplo, pode pensar sobre algo que ocorreu quando tinha 7 anos como um evento menor e não traumático, porque o está avaliando desde a sua perspectiva de adulto, sem considerar que quem o vivenciou foi uma criança. E essa desconexão emocional entre memória e evento costuma dificultar a compreensão de determinados comportamentos e situações atuais. Assim é que pessoas que apanharam dos pais quando crianças costumam bater nos filhos quando adultos: como elas não conseguem sentir todo o leque de sentimentos que aquela experiência causou (impotência, medo, humilhação, etc.), elas não conseguem sentir empatia ou compaixão pelo próprio filho e, com isso, não são capazes de agir diferente.

Sentido de identidade pessoal enfraquecido

Nossos relacionamentos com as pessoas mais importantes da nossa vida costumam ser fatores fundamentais na formação do nosso conceito de identidade pessoal. Por isso, toda criança e adolescente precisa de relações familiares que sejam positivas e previsíveis. Eles precisam aprender quais comportamentos geram reações positivas ou negativas, e como podem influenciar seu próprio meio. Quando isso não acontece, ela cresce e se torna um adulto inseguro com o sentido de identidade e de confiança pessoal comprometidos. Isso se reflete em seus relacionamentos mais próximos, os quais ela pode lidar com certa indiferença, carência excessiva, infidelidade, dificuldade de se comprometer, ansiedade, medo de abandono, entre outras coisas.

Crenças limitadoras e debilitadoras

Conforme comprovado cientificamente em diferentes estudos, nossas crenças (que são formadas durante nossa infância e adolescência) afetam nosso cérebro e nossa mente. Assim, nossa forma básica de vermos a nós mesmos e ao mundo é profundamente influenciada pelas nossas experiências durante os anos formativos da nossa personalidade. E estas crenças são determinantes em nossas conquistas atuais. Por exemplo, pessoas que não acreditam que merecem ser amadas tendem a se apaixonar por pessoas que não são capazes de amar. Qualquer uma das nossas crenças, sejam positivas ou negativas, costumam ser confirmadas pelas nossas experiências, não por uma questão de carma ou destino, mas porque agimos inconscientemente em busca de experiências que as confirmem. É aqui que a ajuda de um profissional com olhos e ouvidos atentos pode ajudar a expor de que forma nosso próprio comportamento está nos fazendo mal.

Memórias não elaboradas que afetam e influenciam nossa experiência atual

Algumas experiências em nossas vidas são emocionalmente tão intensas, que nosso sistema nervoso central pode não ter condições de processa-las integralmente, especialmente se estas ocorrem durante a infância e a adolescência. Além disso, nosso sistema de sobrevivência e autoproteção, que deseja nos proteger do que é doloroso a todo custo, pode mantê-las “esquecidas” para nos proteger da dor que trazem em si, condenando-nos a passar anos sem acessa-las.

E qual o problema disso? O problema é que aquilo que não é processado psicológica e emocionalmente mantem sua força inicial. E ainda que não estejamos conscientes disso, estes eventos que soterramos continuam a influenciar nossa vida e dia-a-dia de maneira prejudicial para os nossos objetivos. Por isso, é importante poder “desenterra-los” e enfrenta-los, para por fim poder deixa-los para trás.

Por quê olhar para trás?

Nossa infância pode ser o lugar para onde escapamos quando precisamos de um refugio das dificuldades da vida adulta. Ou pode ser onde residem nossos piores fantasmas e, por isso, ser um lugar que evitamos visitar - o que pode ser nosso maior equívoco. É preciso olhar para trás e determinar conscientemente a qualidade das experiências que vivemos para podermos entender como elas se fazem presente em nossa vida hoje.

De que forma elas determinam quem somos e como nos relacionamos? É na resposta a esta pergunta que reside a possibilidade de escolher como responderemos as situações que a vida nos apresenta. Aqui se encontra a possibilidade de criação de uma nova história, a liberdade de sermos diferentes, o encontro com quem realmente somos e uma aproximação daquela pessoa que sempre sonhamos ser. Sem isso, somos autômatos respondendo ao momento presente com comportamentos ensaiados e automáticos que já não servem mais.

É este olhar sobre o passado que nos permite nos libertarmos do nosso “carma”, destino e de tudo aquilo que acreditamos determinar nosso presente e futuro. Carma e destino só existem onde não existem autoexame e autoconsciência. Analisar o passado não significa fugir às responsabilidades sobre quem somos e como agimos hoje. Não significa culpar aos próprios pais nem se lamentar ou se vitimizar da própria história. Ao contrário, ao entender a própria história assumimos responsabilidade sobre padrões de comportamentos que prevalecem intocados há anos, e nos dispomos a muda-los. Negar a influência do nosso passado sobre nosso presente significa nunca aprender com o que vivemos. Somos frutos das nossas circunstâncias, mas não precisamos ser determinados por elas.

Quanto mais reconhecemos sermos frutos das circunstâncias, mais possibilidades de mudanças criamos em nossas vidas.

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