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Márcia Fervienza

Que poder temos sobre nossas vidas?


Que poder temos sobre nossas vidas? | Márcia Fervienza Astrologia | Rio de Janeiro

Como coach e astróloga, vejo em meus atendimentos com mais frequência do que gostaria a presença do pensamento fatalista na vida das pessoas. Muito comum nas populações latino-americanas, o fatalismo é um tipo de conformismo massivo às classes dominantes da sociedade, em especial nos setores mais depauperados e marginais, que com o tempo se tornou parte inerente à cultura popular e se estendeu a outras áreas de nossas vidas. Um mecanismo de sobrevivência adaptativo, o fatalismo constitui um conformismo básico de grupos e pessoas em condições deploráveis de existência e com um regime de vida opressor que, sem outros recursos, atribui os eventos de sua vida a forças que estão além da sua esfera de influência. Se trata de uma característica considerada própria de certas culturas indígenas latinoamericanas e, em geral, do camponês, que o levaria a aceitar espontaneamente um destino desumano. As principais crenças das pessoas que se conduzem em base ao fatalismo são as seguintes:

- A vida de cada pessoa está predefinida, pelo menos em seus traços básicos, desde que nasce até a morte: os eventos “acontecem”, porque “está escrito”;

- A ação atual de cada um, o próprio comportamento, não pode mudar esse destino fatal: são forças incontroláveis que regem a vida dos seres humanos;

- Em última instancia, é um Deus distante e Todo-Poderoso que atua através dessas forças incontroláveis, que escreve o destino de cada um: se opor a ele seria contrariar a vontade divina.

Em suas vidas, de forma geral, essas pessoas fazem o que é pedido delas, e da maneira que lhes é pedido, na mais completa submissão à vontade e desígnios daquele que tem melhor posição social, ou de mais poder, na sociedade (seja o chefe na empresa ou o governo). Por outro lado, crer em um destino já escrito evita todo esforço necessário para mudar: como nada pode ser mudado, já que tudo está predefinido, não vale a pena se esforçar, tomar iniciativas ou buscar mudanças.

A que se deve o fatalismo? A quem serve essa forma de agir? A todos que acreditam nela, já que evita que nos confrontemos com as frustrações dos nossos esforços inuteis, com o desgaste de tentativas que chocam contra o muro da intransigencia daquilo que não controlamos. Nesse sentido, o fatalismo seria um mecanismo adaptativo, uma estratégia de sobrevivência, que nos permite subsistir em condições desfavoráveis. Mas, por outro lado, previne mudanças pessoais e sociais.

Não quero questionar a crença pessoal de cada um. Mas sim quero questionar a crença pessoal de que há algo além que nos rege e ante o qual estamos de mãos atadas. Se nossas vidas estão escritas, seremos marionetes de um plano alheio? Creio que se existe um “além”, ele terá algo maior e melhor para fazer que observar o teatro de nossas vidas se cumprir tal qual ele espera, uma vez que ele já sabe o final. Se existe um Deus, suponho que ele conta com a possibilidade de que nos superemos e o surpreendamos. Suponho que ele está esperando que seus filhos cresçam e se tornem homens, como nós esperamos que nossos filhos cresçam e se tornem independentes. Será que ele quer só observar nossa capacidade de nos resignarmos diante de seus caprichos e ideias para nossas vidas? Se existe um Deus, eu não poderia imaginá-lo tão mimado. Suponho que sua ideia primordial será que aprendamos a nos questionarmos, nos avaliarmos e nos corrigirmos em nossos próprios caminhos, sempre que necessário. Como um pai para seus filhos, suponho que ele desejaria que em algúm momento nos responsabilizássemos por nossos atos e pelas consequências destes em nossas vidas, sem acreditar que tudo começa e termina nele. E se isso for verdade, então somos livres e autônomos para agir, mudar, remodelar tudo com que não estamos satisfeitos a partir de uma auto-observação e uma observação do nosso entorno. Não será isso que ele realmente quer? E se tentássemos?


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