Estamos nos aproximando da temporada escorpiônica (que esse ano tem início no dia 23 de outubro às 13h20 de Brasília) e, com isso, nos chega aquele convite indesejado de mergulho nas camadas mais escuras do nosso próprio ser.
Pra muita gente, navegar isso é difícil. Mas é só encarando e aceitando o "feio" na gente que a gente consegue encarar e aceitar o feio, a humanidade do outro. Portanto, um trabalho sumamente necessário.
Mas não é esse o lado que mais vemos nas mídias sociais sobre o signo de Escorpião. Não sem razão, diz-se que Escorpião é o signo dos stalkers! Diz-se que nenhum outro signo tem mais contas fakes nas mídias sociais (para stalkear seus objetos de desejo - e até mesmo objetos que eles nem desejam tanto assim, mas sob os quais sentem que precisam manter o controle), nenhum signo é mais capaz de descobrir senhas de celular e do computador do crush para escrutinar o que está rolando em paralelo, e ninguém pressente melhor aquele "algo estranho no ar" do que este signo. Como eu disse no início do parágrafo, tudo isso é verdade. Mas Escorpião não é só isso.
Escorpião rompe barreiras, que geralmente são inconscientes.
E é neste lugar de autoconhecimento onde Escorpião é mais forte, SE ele se dispuser a esse mergulho. E nesse mergulho ele encontra tudo que é feio, tabu, reprimido, todas as suas obsessões e compulsões, tudo que não é aceito socialmente. Sim, tipo Lilith!
E como a gente representa isso socialmente?
Aqui nos Estados Unidos, no dia 31 de outubro (dentro da temporada escorpiana), festejamos o Dia das Bruxas. Já os Celtas chamavam essa data em sua roda do ano de "Samhain".
No Hemisfério Norte, Samhain dá início ao inverno, e é uma época em que acredita-se que as almas dos mortos retornam às suas casas para visitar os familiares, para buscar alimento e se aquecerem no fogo da lareira. Acredita-se que, neste dia, a fronteira entre o Outro Mundo e o mundo real desaparece. Ao pé da letra, Samhain significa "fim do verão".
E no Hemisfério Sul também temos a nossa versão do Dia das Bruxas americano, que chamamos de Dia de Finados (celebrado dia 2 de novembro, conforme determinado pela Igreja Católica), onde pagamos tributo aos nossos mortos, ou o Dia de Todos os Santos (celebrado dia 1 de novembro por crentes de muitas igrejas cristãs e herdada da tradição apostólica). E não podemos esquecer da celebração do Dia de los Muertos, que acontece no México no dia 1 de novembro.
Interessantemente, tanto nos Estados Unidos quanto no México, as celebrações não pagãs de Samhain são festivas. No Halloween, as crianças se vestem de bruxas e saem pelas ruas, batendo nas portas das casas (também decoradas de maneira aterradora) pedindo bala. No México, o Dia de Los Muertos também é uma celebração de dia inteiro cheia de imagens aterradoras, com muita música, dança e bebida.
O que isso significa?
Que uma forma que lidamos com aquilo que nos amedronta é fazendo festa, revertendo o medo em brincadeira, nos vestindo daquilo que mais tememos, decorando nossas casas como aquilo que mais nos aterroriza, transformando o tabu, o medo, a morte, o reprimido, a sombra... em luz. E esse é o papel de Escorpião.
Um outro ponto não menos importante é que no dia 23 de outubro também ocorrem o Equinócio de Outono (no Hemisfério Norte) e o Equinócio da Primavera (no Hemisfério Sul). Neste dia, as horas de luz e as horas de sombra são iguais. A roda do ano Celta estaria, neste momento, mergulhando em sua metade mais escura.
E é nessa dança de luz e sombra, nessa busca por um equilíbrio entre a nossa sombra e a nossa luz, que encontramos Escorpião. Porque embora ele fale do mergulho nas trevas, o objetivo final é trazê-la para o consciente, para que ela veja a luz do dia, e se dissipe, enfraqueça ou que possamos integrá-la.
Então, durante a temporada de Escorpião, temos um mês para olhar para as nossas bruxas interiores: o feio, o pária, o tabu, aquilo que não queremos admitir que faz parte da gente, que tentamos controlar mas não conseguimos. Depois de explorá-lo, amputá-lo ou aceitá-lo, alcançamos a paz. E nada se iguala à paz de Escorpião: a paz de quem não tem absolutamente nada a temer, que é representada de diferentes formas, em diferentes culturas, e que é, assim, naturalizada.
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